sexta-feira, 1 de abril de 2011

UM MUNDO DE DOENTES




Para que a ciência evolua, é necessário não criar bases rígidas, para que ela não se cristalize, não estagne. Pior é quando o cientista, ou o profissional que utiliza os conhecimentos da ciência, julga-se um sábio. Existem várias fábulas famosas para satirizar esta situação. Encontramos também muitas frases e citações que mostram a pobreza da ciência médica em seu limitado casulo. Eis algumas delas: 

"A medicina é uma velha comédia que, de tempos em tempos, volta ao cenário com vestes apropriadas à época." Semmola 

"Livre-me Deus da medicina que das doenças livro-me eu." Alfredo Helby 

"Não há uma doutrina da medicina; há, sim, inúmeros conhecimentos não relacionados." Dr. Pierre Winter 

"Creio em tudo, menos na medicina." Citação do dr. Liautand, médico da corte francesa, quando questionado por um sacerdote se acreditava em Deus, momentos antes da sua morte. 

"As porcentagens de mortalidade nos Estados Unidos, em 1944, foram as mais baixas até então registradas, quando da escassez de pessoal médico por ocasião da guerra."
El Imparcial, Chile, 12/03/1946.

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Vivemos num mundo cercado pela doença. Seja ela física, psíquica, mental, congênita ou hereditária, seu fantasma ronda solto. Em cada época da história da humanidade, a ameaça de uma ou mais doenças sempre esteve presente: no passado, a peste, a lepra e as infecções; hoje, o câncer, o enfarte e outras. Mas é necessário lembrar, no entanto, que hoje é muito mais frequente a morte por acidentes de trânsito, guerras e guerrilhas, por efeito dos agrotóxicos e uso de medicamentos do que por todas as doenças que a humanidade possa ter tido. As causas da morte são geradas pelo homem, e não pela vida em si.

O homem moderno tem um novo componente no seu crítico quadro de anomalias e desequilíbrios, que são as doenças psíquicas e mentais. Há muito se sabe que os estados emocionais e as tensões podem gerar doenças físicas ou orgânicas (doenças psicossomáticas), mas até bem pouco tempo quase nada se sabia a respeito da origem dessas tensões e males psíquicos agora tão comuns. Apesar das muitas teorias a respeito, devemos concluir que o homem criou uma sociedade repressora e opressora, que tiraniza o próprio criador. O homem de hoje praticamente perdeu sua liberdade individual e segue valores e padrões de comportamento que não são legitimamente seus. Sem saber, persegue ideais e objetivos como o poder, a fama, o sucesso e a fortuna, que não lhe trazem nenhum sentido pessoal. São formas alienantes de existir. Quando o indivíduo consegue atingir esses ideais, cai em depressão, pois percebe que a felicidade não está ali. Frequentemente, nessa situação, busca ansiosamente mais e mais: mais poder, mais fama, mais dinheiro, continuando, assim, a alimentar um processo ilusório que traz apenas desgaste e o distanciamento de si mesmo.

Quando não consegue atingir seus objetivos, fica pelo caminho, acreditando que não é feliz por não ter "chegado lá".

São poucas as pessoas neste mundo que vivem intensamente o momento; geralmente vivemos voltados para o futuro ou para o passado. Pensamos que é no futuro que estaremos bem ou felizes. Lutamos para atingir certas metas que geralmente não nos trazem prazer ou aquilo que esperávamos.

Isso faz com que frequentemente a pessoa, após anos e anos de luta, ao se ver frustrada, entristecida e sem energia, se volte para o passado, acreditando que "naqueles tempos, sim, era feliz e não sabia".

Nossa cultura está estruturada de modo a dominar o indivíduo e a submetê-lo às suas exigências. Infelizmente, quem assim se submete, total e incondicionalmente, só conhece a tristeza, o desgaste, o envelhecimento doentio e a neurose. Substituiu-se se o "ser" pelo "ter" e valorizou-se preferencialmente o poder ao prazer de existir, pura e simplesmente. 
Sabemos que a maior parte dos suicídios ocorrem no auge do sucesso, do poder, da riqueza ou em sociedades ultra-organizadas. Isto acontece porque o indivíduo vivência a angústia de não ver mais a saída do labirinto existencial enganoso em que entrou.

Não vê mais sentido em prosseguir naquele caminho e desconhece outros. A neurose e a psicose são talvez as piores doenças, pois nada deve ser pior do que viver em ansiedade intensa, deprimido, inseguro, angustiado e triste. Pior talvez que uma dor aguda, pois o indivíduo perde os seus próprios valores e persegue a si próprio, sendo atormentado a cada instante pelo seu ego, num processo infernal. Isto ocorre devido à repressão das forças espontâneas de prazer que emanam do inconsciente. Parece que o início do processo se dá na vida intra-uterina e na tenra infância, quando os moldes neuróticos dos pais e da sociedade começam a exercer sua influência sobre a criança, de modo a ajustá-la às prerrogativas e exigências do status quo. A criança aprende desde cedo a reprimir seus impulsos naturais e a submeter-se a vontades que não são propriamente as suas.

Com isto, acaba por formar uma personalidade e estruturar seu caráter de acordo com o que lhe ensinam ou forçam. Este processo cria os primeiros bloqueios energéticos, que refletem, nas características individuais, a repressão sofrida pela pessoa.

Quanto mais repressão, tanto maior a ansiedade, a angústia, o ódio, a revolta, a melancolia e o distanciamento de si mesmo. É fato corrente que o ser humano nasce para amar. Nasce com pleno e total potencial de amor, mas, se não pode dar ou receber amor de modo conveniente, acaba por bloquear-se.

Passa a desenvolver a antítese do amor, que é o ódio. O mesmo ódio que fez do homem um ser fratricida, genocida, agressivo e destrutivo. Nossa cultura possui valores alienantes, pois ensina o indivíduo a voltar-se para o mundo exterior, objetivo e "real". 

Quando o indivíduo não age de acordo com aquilo que se considera "comportamento normal", voltando-se mais para o seu interior e buscando compreender seus próprios valores, passa a ser visto como uma pessoa estranha, louca ou desequilibrada.

Assim sendo, a sociedade cerceia o legítimo direito que o cidadão tem de conhecer o seu próprio mundo interno, onde residem a serenidade, a calma, o prazer, o discernimento e a espiritualidade. O homem moderno, ao contrário, está alienado dos lídimos valores fundamentais para a sua evolução. Passa pela vida sofrendo, fazendo do trabalho um meio escravizante de se manter; é influenciado pelos mais diversos estímulos, que o impulsionam ao consumismo, à superficialidade, à exterioridade, ao imediatismo e à praticidade. Vive perseguindo a felicidade e o bem-estar, mas por caminhos indevidos.

Goethe retratou bem a situação humana em Fa us to . Fausto vendeu a alma a Mefistófeles, que em troca lhe prometeu coisas que nunca poderiam ser cumpridas.

Esta condição neurótica acaba influenciando o indivíduo em todos os sentidos. A sexualidade humana parece ser a área mais aflitiva. O prazer é perseguido ansiosamente, no entanto, o cidadão é treinado desde a infância para reprimi-lo.

Confunde-se também liberdade sexual com libertinagem, amor com paixão, esta última, destrutiva e escravizante. Poucos são aqueles que possuem uma sexualidade satisfatória, obtendo dela um prazer calmo, relaxante e profundo. As relações humanas estão controladas. Vários são os elementos que influenciam na questão do sexo. Wilhelm Reich foi perseguido e preso por ter apontado as causas sociais da neurose e seus reflexos na sexualidade. Ele mostrou que grande parte da energia que poderia ser convertida em prazer sexual é desviada para alimentar uma determinada organização ou para criar e manter um tipo de personalidade forjada pelas exigências do meio social. Assim surgem os desvios da sexualidade, o medo inconsciente do prazer, as proibições, o falso moralismo, a depravação, a pornografia etc.

Escravo de si mesmo, o homem moderno desenvolveu a capacidade de negar-se e adaptar-se. Vítima de grande ansiedade, suas tensões transparecem em seus atos e decisões, provocando, em última instância, as revoltas sociais, o controle do homem pelo homem, a luta de classes, os desníveis sociais, a fome, a pobreza, a violência e a guerra.

Todos esses fenômenos têm causas muito complexas e, para que se possa compreendê-las, deve-se estudar bem o inconsciente do homem, onde as forças se acham reprimidas por um ego despótico, criado, desenvolvido e estimulado pela própria sociedade.

Existe uma relação dialética entre o homem e o seu meio. O equilíbrio entre ambos é indispensável para que haja saúde emocional e uma vida serena, isto é, o homem deve manter uma certa conduta em grupo ao mesmo tempo que cultiva também o seu mundo interno.

Sendo assim, o ser humano vive atualmente uma imensa contradição. Para alcançar a almejada felicidade, deve rejeitar os valores básicos da sociedade. Se viver conforme os padrões socialmente aceitos, fica verdadeiramente alienado, até e principalmente de si mesmo. Portanto, está dividido, em constante conflito com o mundo externo.

Existe assim uma interação e uma interdependência entre o indivíduo e a sociedade. Contraditoriamente, aquele que aceita todos os valores da sociedade é, de fato, um alienado (dos seus próprios valores e dos valores relacionados a princípios universais superiores, altruísticos e humanísticos), pois a sociedade é moldada a partir de bases neuróticas. Por outro lado, quando o indivíduo questiona as regras e os valores da sociedade em que vive, é considerado um alienado, um desequilibrado. Quer dizer, para ser feliz é necessário que o indivíduo (etimologicamente: não dividido) se torne um "divíduo", ou seja, dividido, separado.

Não é à toa que os grandes movimentos sociais que questionaram mais profundamente os valores burgueses da sociedade industrial tenham sido chamados de loucos pelas classes dominantes bem comportadas. Ironicamente, a sociedade desenvolveu técnicas que procuram reajustar a pessoa que não segue os padrões de comportamento aceitos. Por meio da psiquiatria medicamentosa ou por métodos psicoterapêuticos baseados em sistemas interpretativos e explicativos procura-se ajustar a teoria ao caso, e não o contrário. Estas técnicas vêem o caso através de um conjunto de informações e dados previamente estabelecidos pelos próprios valores sócio-culturais. As interpretações baseiam-se em teorias geralmente inflexíveis, procurando ajustar o indivíduo doente ao próprio meio gerador da doença, seja ela física, psíquica ou mental.

Como resultado de todo esse processo, temos a vasta gama dos chamados sintomas emocionais, como a ansiedade, a angústia e a depressão, já considerados normais pelo cidadão do nosso século. Quem não possui esses sintomas deve ser um estranho, principalmente se vive numa sociedade que existe e se mantém graças ao cerceamento do prazer individual, que tece a trama do mecanismo de controle social e da escravização do homem...
Uma vez que é o próprio homem que cria as regras da sociedade, quanto mais neurótico ele for, mais o será também o seu meio social. Uma sociedade repressora, divisionista e fragmentária é a própria expressão da condição dos indivíduos que a compõem.

Felizmente, podemos sempre escolher outra vez...
Cuide Bem de Você!

Lena Rodriguez
www.cuidebemdevoce.com



 

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