terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

175 - Juramento de Hipócrates - Revelações Surpreendentes

Excelente artigo e melhor, escrito por um médico. Parabéns Doutor Alexandre Feldman!
Lena Rodriguez


Juramento de Hipócrates - Revelações Surpreendentes

Os médicos, até os dias de hoje, quando se formam, fazem um juramento: o Juramento de Hipócrates. É verdade que em países como o Brasil o Juramento de Hipócrates é meramente simbólico (como veremos, não é obrigatório fazer o Juramento de Hipócrates na íntegra para se formar médico no Brasil). De qualquer modo, o Juramento de Hipócrates está entre os mais famosos de todos os textos da Grécia Antiga.

Os médicos, no dia da formatura, pensam que fazem o Juramento de Hipócrates, ainda que simbolicamente.


Neste documento, guardado pela National Library of Medicine, nos Estados Unidos, o Juramento de Hipócrates encontra-se em grego na coluna da esquerda, com tradução para o latim na coluna da direita. Hippocrates. Ta euriskomena ... Opera omnia … (Francofurti: Apud Andreae Wecheli heredes, 1595). Estima-se que o texto original do Juramento tenha sido escrito no Século 4 Antes de Cristo.

Pensam que fazem.

Pois na verdade, boa parte do texto original do Juramento de Hipócrates é simplesmente “cortada”. Omitida. Essa parte, quase sempre, o médico desconhece, pois não é ensinada a ele. Não é divulgada.

Vamos dar uma olhada no texto original, traduzido livremente por mim, abaixo.

Eu juro por Apolo, o médico; e por Esculápio, Higéia, Panacéia, tendo todos os deuses e deusas como minhas testemunhas que, de acordo com minha habilidade e julgamento, manterei este Juramento e este contrato:

Eu vou nutrir a mesma afeição que tenho para com meus pais àquele indivíduo que me ensinou esta arte, ser dele um parceiro na vida e preencher suas necessidades quando requisitado; considerar os filhos dele como iguais aos meus próprios irmãos, e ensinar-lhes esta arte caso desejem aprendê-la, sem pagamento ou contrato; e que através das regras, aulas e todos os demais métodos de instrução pré-estabelecidos, transmitirei um conhecimento da arte para meus próprios filhos e para os filhos de meus professores, e para os estudantes presos a este contrato e que proferiram este Juramento à lei da medicina, mas não a outros.

Também prescreverei regimes de estilo de vida que beneficiem meus pacientes, de acordo com minha melhor capacidade e julgamento, E EU NÃO VOU LHES CAUSAR MAL ou causar-lhes maus tratos.

Eu não darei droga letal para ninguém, caso isso me seja solicitado, nem aconselharei tal procedimento; e similarmente, não darei a uma mulher um pessário que lhe provoque um aborto.
Na pureza e de acordo com a lei divina, cumprirei minha vida e minha arte.
Eu não utilizarei a faca, nem mesmo naqueles que sofrem de cálculos, mas deixarei essa tarefa para aqueles que foram treinados nesta arte.

Em qualquer casa que eu vá, entrarei pelo benefício do doente, evitando qualquer ato voluntário de impropriedade ou corrupção, incluindo a sedução de mulheres ou homens, sejam eles livres ou escravos.

Qualquer coisa que eu veja ou escute nas vidas de meus pacientes, seja em conexão com minha prática profissional ou não, e que não convenham ser comentadas do lado de fora, eu manterei secretas, considerando todas essas coisas como privativas.

Contanto que eu mantenha este Juramento fielmente e sem corrupção, que me possa ser permitido partilhar plenamente da vida e da prática de minha arte, ganhando o respeito de todos os homens por todos os tempos. No entanto, caso eu transgrida e viole este Juramento, possa o contrário ser meu destino.

Agora, analisemos o conteúdo deste Juramento de Hipócrates.

Logo de início, o Juramento invoca uma série de personagens da mitologia grega (e mais tarde romana). E é sobre esses personagens que o médico está jurando. Veja por que isso faz sentido:
Até hoje, quando se faz um juramento, jura-se sempre por alguma coisa, ou alguém, ou alguma coisa que representa algo de caráter sagrado. E esse alguém é, quase sempre, um ancestral (vivo ou morto) ou uma entidade divina. Comumente ouvimos dizer hoje em dia: – “Juro pela alma de …” (ancestral falecido), ou – “Juro pela minha mãe” (ancestral vivo), ou até mesmo – “Juro por Deus” (alguém de caráter sagrado). Nos tribunais dos Estados Unidos, o réu e as testemunhas juram pela Bíblia, (coisa que representa o sagrado para a civilização judaico-cristã). Mas o Juramento de Hipócrates consegue abranger tudo: ao invocar personagens da mitologia grega, etrusca e romana, estão na verdade sendo invocados nossos ancestrais de tempos imemoriais, do berço da civilização ocidental, a quem devemos não apenas nossa herança genética, mas também de conhecimento, e que por sua vez criaram esses personagens mitológicos (deuses, portanto sagrados para nossos remotos ancestrais) através de sua vivência e sabedoria há muito, muito tempo atrás. Esses personagens sempre foram simbólicos e representavam uma série de fenômenos até hoje inexplicáveis pela lógica.

Assim, a palavra Apolo (que em grego pronuncia-se algo como Apólon) dá origem às palavras redimir/salvar/resgatar (ἀπόλυσις), assim como purificação (ἀπόλουσις). Apolo é um personagem mitológico, filho de Zeus (rei dos deuses do Olimpo). Apolo é um dos mais importantes deuses do Olimpo, sendo conhecido como deus da luz e do Sol, da verdade e da profecia, da medicina e da cura, das artes, da poesia e da música, entre outras coisas. A medicina e a cura eram associadas a Apolo, e também pela mediação de seu filho, Esculápio.

Enquanto Apolo possuía vários domínios, Esculápio (que em grego pronuncia-se algo como Asclépios) (Asklēpiós) era deus, especificamente, da medicina e da cura, dentro da antiga mitologia grega.

Sua mãe, Coronis, foi morta enquanto ainda grávida de Esculápio, por ter sido infiel a Apolo; mas seu filho foi resgatado vivo de seu útero. Por isso recebeu o nome Asclépios, que significa algo como “abrir com um corte”. Os romanos traduziram Asclépios para Esculápio (Aesculapius).

As palavras escalpelo (sinônomimo de bisturi) e scalpel (bisturi em inglês) não são mera coincidência. Esculápio era o deus específico da medicina, da cura, do rejuvenecimento e também dos médicos. Várias regiões da Grécia Antiga possuíam santuários dedicados a Esculápio, inclusive a ilha de Kos, onde Hipócrates, o lendário médico grego, teria iniciado sua carreira. Os ancestrais da nossa civilização ocidental peregrinavam em massa, quando doentes, para esses templos de cura. Esculápio é simbolizado por um bastão envolvido por uma serpente. Em homenagem a Esculápio, durante os rituais de cura, várias cobras não venenosas eram deixadas serpenteando no chão dos quartos habitados pelos doentes e feridos.

Higéia, na mitologia grega, é filha de Esculápio. Se, de um lado, Esculápio era associado à recuperação e cura, a figura de Higéia (Ὑγεία) era associada à prevenção das doenças e à continuidade da boa saúde. Ela era a deusa da saúde, da limpeza e do saneamento. Seu nome deu origem à palavra higiene.

Estátua de Higéia no Instituto de História Antiga da Universidade de Innsbruck (Áustria)
Muitas estátuas e monumentos na Grécia, retratam Higéia segurando um receptáculo circular que recebe o nome de pátera, envolto por uma serpente dócil e prestes a se alimentar do seu conteúdo. A serpente representa, simbolicamente, o paciente que está prestes a compartilhar do tratamento, ao mesmo tempo em que está assumindo controle sobre seu próprio bem-estar ao fazer as escolhas corretas.
O Significado da Serpente:

A serpente está relacionada a uma crença grega ainda mais ancestral, de que as cobras seriam donas de grande sabedoria e capacidade de regeneração e cura (as cobras trocam de pele “renovando-se”). Acreditava-se que os mortos iam para “baixo”, para o fundo da terra, num lugar parecido com um sonho, denominado Hades (e que não é nem bom, nem ruim). As serpentes manteriam contato com os mortos, e poderiam até transportar a alma de antepassados que retornariam de baixo para ajudar os vivos. A idéia de que as serpentes possuem sabedoria provém justamente da crença que elas transportavam o espírito dos nossos antepassados falecidos.

Panacéia (em grego Πανάκεια) é irmã de Higéia, portanto filha de Esculápio e neta de Apolo. Panacéia é deusa da cura. Observe que Apolo também era deus da cura, entre outras coisas. Acontece que Panacéia e suas 5 irmãs, possuíam, cada, uma faceta específica da arte de Apolo: Panacéia, a cura; Higéia, a prevenção; Meditrina, a longevidade; Algéia, a beleza natural; E Akeso (ou Aceso), a recuperação. Panacéia detinha uma poção, com a qual curava os doentes. Daí surgiu o termo panacéia, utilizado até hoje para descrever um medicamento capaz de curar muitas doenças, ou “remédio universal” capaz de solucionar todos os males.

E é assim que o Juramento de Hipócrates se inicia, com a invocação solene: “Eu juro por Apolo o Médico, e por Esculápio, Higéia e Panacéia, tendo como testemunhas todos os deuses e deusas…

Pergunto: será que isso não possui um forte significado simbólico até os dias de hoje, conectando-nos com as ‘forças’ (até hoje não completamente explicadas) que governam nosso bem mais sagrado – a nossa saúde? Será que isso não representa um compromisso solene com toda herança de nossa civilização e conhecimento?

O médico jura, em primeiro lugar, ser profundamente agradecido ao Mestre que lhe ensinou esta Arte, e a considerar os filhos de seu Mestre como seus próprios irmãos.

No tocante aos seus pacientes, o médico jura, antes de mais nada, tratá-los com orientações de estilo de vida que lhes tragam benefícios. Sim – estilo de vida mesmo! O texto original em grego fala em prescrição de diaita; repare na linha 16 do documento acima. Ao contrário do moderno significado de “dieta”, a palavra diaita não dizia respeito apenas a hábitos alimentares, mas sim a exercícios físicos, hábitos de trabalho, saúde mental, comportamento sexual, padrões de sono, higiene corporal etc. Na tradução latina do documento acima, encontramos a palavra victus. Victus também significa estilo de vida, modo de vida, além do significado mais conhecido que possui (de provisões, nutrição, alimentos). Está escrito Victus quoque rationem : “Estilo de vida também prescreverei“.

O Juramento de Hipócrates prossegue: em seguida, o médico jura que não vai causar mal a seus pacientes, e jura que não vai lhes dar droga letal em nenhuma hipótese.

Qualquer bula de qualquer droga vai confirmar imediatamente: elas podem podem fazer mal. Aliás, elas podem fazer mais mal que bem.

Diz o juramento:

(…)E EU NÃO VOU CAUSAR-LHES MAL(…).

Ou seja: antes de mais nada, o médico não deve causar, JAMAIS, um mal aos seus pacientes.

Mas o que são os eufemisticamente chamados “efeitos colaterais”, senão males causados pelas drogas?

E mesmo assim, é perfeitamente aceitável para nós, médicos, prescrever a um paciente drogas que podem causar-lhes danos nos rins, ou asma, obesidade, anorexia, queda dos cabelos, diminuição da libido, alergia, falência hepática, gastrite, úlcera, fibrose, problemas no coração, na pressão… enfim, danos ao organismo que podem ser maiores do que a própria doença para a qual o paciente está ingerindo essas drogas!

É claro que tomar essas drogas – que a propósito, não curam a doença – não significa, necessariamente, que elas provocarão tais efeitos colaterais. Mas será aceitável correr esse risco?

Alguém poderia até achar que é aceitável. Alguém, por exemplo, com muita dor há bastante tempo (por exemplo, a dor de cabeça crônica da enxaqueca), alguém em total desespero, à busca de uma solução – seja ela qual for. Alguém que “topasse tudo”, até mesmo a possibilidade de efeitos colaterais piores que a própria doença.

Porém, nessa hora é preciso lembrar de um outro detalhe: TODAS as drogas vão perdendo o seu efeito com o tempo.

Conclusão: além de correr um risco de ficar muito mais doente, ou até perder a vida por conta de efeitos colaterais das drogas, existe a certeza de que essas drogas, com o tempo, vão perdendo seu efeito “benéfico”.

Uma verdadeira situação perde-perde. Você perde de todos os lados.

E mesmo que as chances de uma determinada droga provocar a morte ou danos irreparáveis fossem de uma em um milhão, de que adiantaria se essa pessoa fosse você? Será que essa estatística serviria de consolo para você seus familiares? “- …Olha, mas a chance disso ter acontecido era de apenas uma em cem mil!…”, ou 10 mil, ou mil… Quem se consolaria com essa justificativa?

É bem verdade que certas coisas mudaram desde a época de Hipócrates. Por exemplo, naquele tempo médico era uma coisa e cirurgião era outra:

Eu não utilizarei a faca, nem mesmo naqueles que sofrem de cálculos, mas deixarei essa tarefa para aqueles que foram treinados nesta arte.

Hoje em dia, os cirurgiões são médicos. Mas até mesmo hoje, a maioria dos médicos não são cirurgiões.

Para os médicos cirurgiões da atualidade, essa pequena frase do Juramento de Hipócrates não é válida.

Mas para todos os médicos (cirurgiões inclusive), o restante do Juramento de Hipócrates continua repleto de sabedoria e Ética.

A Ciência de ponta já comprovou que a grande maioria das doenças é causada por fatores ambientais e comportamentais, ou seja, nossos hábitos e estilo de vida, os quais influenciam enormemente, desde nossa imunidade até nossa saúde mental.

Na minha opinião, infelizmente, a maioria dos médicos está cada vez mais especializada em doenças, e menos em saúde!

Mais que isso, as doenças estão sendo encaradas como um estado de “falta de droga”: Enxaqueca é “falta de remédio (droga) para enxaqueca”. Pressão alta é “falta de remédio para pressão”, e assim por diante. Infelizmente, o que eu vejo é um mundo cada vez mais doente, tomando cada vez mais drogas. Prova disso é que muitas doenças que antes ocorriam quase que exclusivamente em indivíduos mais velhos, estão ocorrendo em pessoas cada vez mais jovens.

É claro que as drogas, a meu ver, podem, em certos casos, possuir grandes benefícios (apesar de não curar o paciente). Mas a aplicabilidade de cada um desses casos deve, na minha opinião, ser analisada à luz do atualíssimo Juramento de Hipócrates.

Portanto,

Se você acredita que seus hábitos e estilo de vida podem influenciar positivamente sua saúde;

Se você concorda que nenhum remédio e nenhum médico são capazes de curar uma doença, mas apenas aliviar seus sintomas com drogas e outros procedimentos;

Se você concorda que a cura das doenças existe, porém se encontra dentro de você, e não fora;

Se você acredita que seu organismo não pode ser dividido em infinitos compartimentos, portanto todas as doenças são resultado de um desequilíbrio de todo o organismo;

Então este site é para você!

Medicina do Estilo de Vida é o nome que dou para a arte da manutenção da saúde, prevenção e recuperação de doenças através de uma ação conjunta que envolve, principalmente, mudanças de hábitos e estilo de vida.

Aqui, você lerá artigos sobre os mais diversos assuntos (até mesmo assuntos como restaurantes, cinema e viagens) que na minha visão podem influenciar, de alguma forma, nossa saúde. As informações deste site são de caráter geral, e jamais devem ser interpretadas como métodos para diagnosticar e tratar doenças. Ou seja, este site não substitui, de forma alguma, um médico. Ele tem, isso sim, a missão de informar e transmitir conhecimento ao público sobre questões de saúde, principalmente hábitos e estilo de vida saudáveis. Possui também a missão de revelar “o outro lado” de algumas (muitas!) informações e “crenças” sobre saúde, que infelizmente se transformaram em quase unanimidade, mas que na verdade estão longe de serem verdades absolutas.

Para receber um e-mail a cada artigo novo publicado aqui no site (e portanto tornar-se um “assinante” do site), basta preencher seu e-mail no campo localizado em uma das colunas laterais.

Boa leitura e muita saúde para todos nós!

Alexandre Feldman
Fonte

Cuide bem de você... www.cuidebemdevoce.com

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