"No final tudo acaba bem! Se não está bem é porque não acabou".
(pai do escritor Fernando Sabino)
Tentar entender porque determinadas pessoas olham
mais os aspectos positivos da vida (enquanto outras olham mais os
negativos) e porque determinadas pessoas se dizem mais felizes que
outras sempre foi uma questão que interessou psicólogos, filósofos,
sociólogos, donas de casa, donos de casa... enfim, a todo mundo!
Uma
equipe da Universidade de Harvard (Estados Unidos) tentou responder
estas questões com uma pesquisa sem precedentes: a vida de mais de 800
homens e mulheres nascidos no início do século XX foi acompanhada por 80
anos para tentar entender qual o papel da hereditariedade, dos
acontecimentos vividos durante a infância e do ambiente.
Durante
este longo período os pesquisadores procuraram conhecer a história
familiar, os estudos, serviço militar, a vida profissional, casamentos,
nascimentos, os momentos de glória numa carreira, mas também os
divórcios, as depressões e os problemas de saude.
Após
reunirem os dados, os mais de 50 pesquisadores que participaram da
pesquisa ao longo destes 80 anos, constataram que os primeiros
resultados pareciam indicar claramente que o sucesso e a boa saúde
estavam programados desde o nascimento das pessoas... As pessoas que
nasceram em uma família de maior poder aquisitivo viveram, em média, 10
anos mais do que as pessoas nascidas em ambientes menos favorecidos. E a
sua renda média era três vezes maior! Os jovens que vieram de classes
sociais menos favorecidas tinham três vezes mais chances de terem
problemas de obesidade e duas vezes mais probabilidade de terem
problemas de alcolismo e tabagismo.
No entanto,
quando os pesquisadores começaram a analisar cada trajetória
individualmente, identificaram numerosas exceções que permitiram
conclusões bem mais ricas e interessantes. E a principal delas é que o
desenvolvimento de uma pessoa não pode ser medido adequadamente pelas
"médias". Pessoas que tinham tudo para serem deprimidas e com problemas
de saude, demonstravam serenidade e alegria de viver. Por quê???
A
conclusão do estudo pode abrir novas pistas para compreender quem
somos. A maioria das pessoas considera a vida como uma curva única,
primeiro ascendente, e depois de uma certa idade, descendente. Após a
infância e a adolescência vem a maturidade e logo após o declínio
inexorável. O estudo de Harvard aponta em outra direção. Ele sugere uma
outra metáfora: a da pedra atirada num lado. A pedra faz surgir ondas
concêntricas. Não mais uma curva que sobre e desce, mas diferentes
ondas. Um movimento constante e não mais ascensão e declínio.
A
ideia é que temos vários desafios a cumprir ao longo da vida. Uma das
primeiras missões que temos é deixar nossa casa, nossos pais (física e
emocionalmente) para construir nossa própria personalidade. Uma outra é
construir uma vida profissional que corresponda às nossas capacidades e
traga, se possível, reconhecimento e satisfação. Outra missão é sermos
capazes de construir relações mais íntimas e prazerosas com outras
pessoas.
A superação ou enfrentamento de cada um
destes desafios nos torna mais (ou menos) capazes de lidar com os
outros. A nossa percepção de como estamos nos saindo diante destes
desafios é que vai trazer a cada um a sensação de felicidade.
E
aí os resultados são inpressionantes. As pessoas com mais saúde (menos
problemas com alcool, cigarro, obesidade, etc) e mais longevas são,
efetivamente, as que levam a vida pelo seu lado mais positivo!
Independente de classe social e renda. O estudo ajuda a desmistificar a
ideia de que o homem que perde o trabalho, a mulher, etc, começa a beber
e a vida descarrilha. O estudo demonstra exatamente o contrário!
Primeiro vem o alcool (por uma série de fatores), e depois estes
problemas mais visíveis e evidentes.
O estudo foi publicado pela revista francesa GEO SAVOIR (novembro-dezembro 2011).
No final da reportagem, o reporter faz as duas últimas perguntas ao coordenador (atual) do estudo, prof. George Vaillant:
GEOSAVOIR; Como o senhor resumiria os principais resultados do estudo?
Prof
Vaillant: "Os seres humanos são capazes do pior, mas sobretudo, do
melhor. E, frequentemente, este melhor chega no fim. Para uns, o amor
aos outros se impõe como uma evidência; para outros, ao contrário, ele
se torna incompreensível".
GEOSAVOIR: Por que?
Prof. Vaillant: "Meu caro, depois de mais de 40 anos de pesquisa esta continua sendo a minha grande questão..."
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