Robert Doughty: "foi muito difícil,
mas consegui"
Na Grã-Bretanha, mais um caso de sucesso na
reversão do diabetes tipo 2 voltou a chamar a atenção para a teoria de que por
meio de uma dieta de restrição calórica, feita por um período determinado de
tempo, é possível se livrar da condição que afeta cada vez mais pessoas em todo
o mundo.
O jornalista britânico Robert Doughty, de 59 anos, que até o ano passado estava entre os 371 milhões de portadores do diabetes no mundo, reverteu o quadro da própria condição com uma dieta de apenas 800 calorias por dia.
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Num período de apenas 11 dias, Doughty enfrentou o duro regime de ingerir três doses diárias de shakes de reposição alimentícia com 200 calorias cada, somada a uma uma porção de legumes e vegetais de mais 200 calorias. Como parte da dieta, ele também teve que tomar um total de três litros de água por dia.
O jornalista britânico Robert Doughty, de 59 anos, que até o ano passado estava entre os 371 milhões de portadores do diabetes no mundo, reverteu o quadro da própria condição com uma dieta de apenas 800 calorias por dia.
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Num período de apenas 11 dias, Doughty enfrentou o duro regime de ingerir três doses diárias de shakes de reposição alimentícia com 200 calorias cada, somada a uma uma porção de legumes e vegetais de mais 200 calorias. Como parte da dieta, ele também teve que tomar um total de três litros de água por dia.
O drástico regime, que para efeito de
comparação tem menos calorias do que apenas um dos lanches vendidos pela rede
de fast food McDonalds – o Big Tasty tem 843 calorias – não foi "nada
fácil de enfrentar", contou o jornalista em entrevista à BBC Brasil.
"Frequentemente me sentia muito
cansado... Uma noite, depois de ir ao teatro, quase não consegui subir as
escadas da minha estação local de trem, e caminhar para casa parecia
praticamente impossível. Também sentia muito frio, chegando a colocar quatro
camadas de roupa no meio do verão, quando sentia meus dedos ficarem
dormentes", disse o jornalista.
Doughty seguiu a dieta depois de procurar
na internet estudos referentes ao diabetes tipo 2. Antes de começar o regime,
ele procurou o pesquisador Roy Taylor, da Universidade de Newcastle, autor da
teoria da dieta de 800 calorias, além do próprio médico, de quem obteve o aval
para cortar as calorias diárias.
Ele já havia tentando uma dieta considerada
menos radical, com cerca de 1.500 calorias por dia, com a qual emagreceu, mas
não reduziu a glicose no sangue para o nível adequado.
Ranking do diabetes no mundo
Mais de 371 milhões* de pessoas são portadoras do diabetes no mundo. No ranking dos países com os maiores índices da condição, estão as nações onde o poder de compra aumentou nos últimos anos.
China: 92,3 milhões
Índia: 63 milhões
EUA: 24,1 milhões
Brasil: 13,4 milhões
Rússia: 12,7 milhões
México: 10,6 milhões
Indonésia: 7,6 milhões
Egito: 7,5 milhões
Japão: 7,1 milhões
Paquistão: 6,6 milhões
Fonte: Federação Internacional do Diabetes
*Pessoas entre 20 e 79 anos de idade, incluindo os casos de diabetes tipo 1.
A teoria
O diabetes tipo 2 se desenvolve quando o
pâncreas para de produzir insulina em quantidades suficientes para manter o
nível normal de glicose no sangue. No caso do diabetes tipo 1 - também chamado
de diabetes congênito -, o pâncreas para totalmente de produzir insulina, que
precisa ser injetada no paciente.
Nos dois casos, sem o controle adequado, o
nível de glicose no sangue alcança um patamar de risco, o que pode gerar a
longo prazo diversas complicações nos rins, pressão arterial alta, perda
parcial ou total da visão, problemas no coração, dentre outros males.
No caso da diabetes tipo 2, a condição está
fortemente associada à obesidade, uma condição que se alastra em todo o mundo.
Foi justamente a associação com a gordura
que intrigou professor Roy Taylor, da Universidade de Newcastle, no norte da
Inglaterra, quando iniciou seus estudos sobre o diabetes tipo 2 há dois anos.
Ele notou que pacientes que se submetiam à
cirurgia para redução de estômago passavam por um período de transição, logo
após a cirurgia, de redução drástica da quantidade de calorias ingeridas.
"Até se acostumarem com a redução do
próprio estômago, os pacientes comiam muito pouco, porque se sentiam saciados
muito rápido e tinham náuseas. Com isso eles perdiam muito peso, num espaço de
tempo bem curto", afirmou Taylor em entrevista à BBC Brasil.
Passados alguns meses depois do
emagrecimento, o pesquisador notou que a maioria dos pacientes que tinham
diabetes tipo 2 tinham se livrado da condição.
Todos eles tinham algo em comum: haviam
perdido uma grande quantidade de gordura na região abdominal.
Obesidade e diabetes
O obesidade é citada por especialistas como a
principal "vilã" no desenvolvimento do
diabetes tipo 2. Alguns cientistas, como o
professor Roy Taylor, já defendem que o aspecto
genético já não é mais relevante. Segundo ele,
"qualquer um pode desenvolver a condição se
não adotar hábitos mais saudáveis".
Estudos preliminares mostraram, então, que
esse tipo de gordura, localizada na barriga, próxima de órgãos como o pâncreas
e o fígado, tinha uma associação com o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
"Descobrimos que a gordura na região
abdominal provoca uma reação metabólica que dificulta a digestão da glicose
pelo pâncreas. A simples presença da gordura nessa região causa uma mudança no
metabolismo, que dificulta a produção de insulina", explicou Taylor.
Ao fazer a relação entre calorias
ingeridas, tempo gasto para perder peso e a quantidade de gordura perdida,
principalmente na região abdominal, Taylor chegou à teoria da dieta de hiper
redução calórica.
"Cada pessoa é diferente, mas notamos
que a redução calórica para algo em torno de 800 calorias por dia causava a
reversão do diabetes. Alguns pacientes demoram mais que outros, mas todos
conseguem reverter a condição dentro de oito semanas", afirmou o
pesquisador.
O estudo de Taylor foi divulgado em 2011,
na publicação científica Diabetologia.
Riscos
Roy Taylor: o "criador" da dieta 800 calorias
A dieta das 800 calorias é considerada
segura, mas precisa ser feita com acompanhamento médico, pois há vários riscos
e fatores que devem ser levados em consideração.
De acordo Taylor, o primeiro passo é saber
se o indivíduo está bem nutrido e não possui falta de vitaminas no organismo,
principalmente ferro.
Ele ressalta que a dieta de hiper restrição
calória poderia ser um meio seguro de reduzir o índice de diabetes "até
mesmo em países pobres, desde que todas as precauções sejam tomadas".
"Seria importante, porém, se tomar
extrema precaução com pessoas que são mal nutridas, que devem ter os níveis de
vitaminas, e especialmente ferro, verificados antes de se iniciar a dieta.
Ainda assim, seria muito barato prover suplementos vitamínicos para estas
pessoas e continuar a recomendar a dieta para reverter o diabetes".
Curto prazo X longo prazo
O Brasil ocupa a quarta colocação no
ranking dos países com maior índice de diabetes no mundo, com 13,4 milhões de
portadores no país, o que equivale a 6,5% da população, de acordo com o último
levantamento da Federação Internacional do Diabetes (FID).
Em primeiro lugar está a China (92,3
milhões), seguida da Índia (63 milhões) e Estados Unidos (24,1 milhões).
"Notamos que há uma relação direta
entre aumento poder de compra e o crescimento de casos de diabetes no mundo. Em
Países como o Brasil, China e Índia, onde a população está podendo consumir
mais, o aumento do diabetes é tipo 2 é assustador", ressaltou o presidente
da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduino Tschiedel, em entrevista à BBC
Brasil.
Para Tschiedel, "a pesquisa britânica
de hiper redução calórica na reversão da diabetes tipo 2 tem uma validade
científica muito grande, porque vem a confirmar a importância da alimentação
como fator fundamental no combate a doença".
No entanto, ele ressalta que manter-se
livre da obesidade e consequentemente do diabetes tipo 2 por um longo período
de tempo é o maior desafio.
"O maior problema está em manter uma
dieta adequada por um longo período de tempo. Esse é o nosso maior desafio,
porque envolve uma mudança comportamental muito difícil de ser alcançada num
mundo em que a oferta de alimentos hiper calóricos é muito grande",
explica Tschiedel.
Ele ainda ressalta que o esforço para
combater a obesidade e o diabetes envolve uma ação conjunta de várias
entidades.
"Nós, da Sociedade Brasileira de
Diabetes, acreditamos que uma mudança nos hábitos da população só seja possível
com um conjunto de medidas que envolvam o governo, sociedade civil e a mídia
num esforço conjunto para conscientizar e educar as pessoas sobre a importância
de se manter uma alimentação mais saudável e atividades físicas
regulares", alerta.
No longo prazo, a eficácia da teoria do
professor Roy Taylor ainda está sendo testada.
"Notamos em nossos estudos, que as
pessoas que contraíram o diabetes tipo 2 há menos de quatro anos são as que
melhor respondem ao tratamento da dieta de 800 calorias. Com mais de quatro
anos, notamos que se torna mais difícil a reversão da diabetes tipo 2. Então,
ainda é muito cedo para dizer que o mesmo método vá funcionar em pessoas que
têm diabetes há muito tempo. Estamos tentando entender qual seria o melhor
método para essas pessoas", disse Taylor.
Genética
x hábitos
De acordo com estudos feitos na
Universidade de Newcastle, a genética parece não ser mais um fator fundamental
no desenvolvimento do diabetes tipo 2.
"Mesmo pessoas com tendência genética
ao diabetes tipo 2 podem evitar o desenvolvimento da condição se mantiverem uma
dieta mais restrita de açúcares e uma rotina de exercícios regulares. O mais
importante é não chegar ao ponto de acumular gordura na região abdominal”,
explicou o professor Taylor.
“Pessoas com histórico na família estão
mais suscetíveis a desenvolver o diabetes tipo 2, porque isto é uma tendência
genética. Mas o fato é que, qualquer pessoa pode desenvolver a doença pelo
simples fato de acumular gordura, principalmente na região do abdômen. Então,
hoje em dia, podemos dizer que as pessoas desenvolvem o diabetes tipo dois mais
por hábitos alimentares inadequados e falta de exercício físico – com um estilo
de vida sedentário – do que pela questão genética”.
O jornalista Robert Doughty disse que,
apesar da dieta ter sido difícil de ser seguida, ele não desistiu porque
acreditou nos benefícios.
"Durante a dieta, fiquei relembrando a
mim mesmo os benefícios do regime pare reduzir a glicose no sangue. O fato dos
portadores do diabetes tipo 2 terem 36% mais risco de morrer mais cedo e
grandes chances de ter ataques cardíacos, aneurisma, danos na visão e problemas
de circulação que podem provocar até esmo amputação de membros, e 50% mais
chance de tomarem medicação para o resto da vida, foi meu grande
incentivo".
Ele disse que sua maior alegria foi quando
seu médico ligou e disse: "O seu diabetes se reverteu completamente,
parabéns!".
Fonte BBC Brasil
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